Beth Baldi (*)
Este é o primeiro de uma série de três textos, que publicaremos ainda este mês no nosso blog, para falar sobre a proposta didático-pedagógica da escola. Nos parece sempre oportuno trazer algo que ofereça às famílias – especialmente às que já têm filhos na Projeto, mas também àquelas que estão visitando a escola e buscando conhecê-la – a possibilidade de ampliarem seu entendimento nesse sentido. Sabemos que quanto mais claramente as famílias enxergam e compreendem o processo de aprendizagem de seus filhos e o modo como ele é encaminhado, maiores são as chances de parceria e cooperação com a escola e, consequentemente, mais efetivos são os resultados. Além disso, como são vários e complexos os aspectos que constituem uma proposta escolar e as relações entre eles, faz-se necessário oportunizar às famílias diferentes formas de aproximação a eles, o que buscamos fazer através de conversas nas reuniões gerais e individuais, de sua participação em situações de aula, saídas de campo e mostras de trabalhos, por exemplo, e de leituras de publicações variadas, disponibilizadas nos canais de comunicação da escola, entre outras formas.
Como acontece com as crianças, em suas construções de diferentes conhecimentos, acreditamos que também nós, adultos, necessitamos de reaproximações sucessivas a eles, já que não aprendemos todos da mesma forma, o mesmo tanto e ao mesmo tempo. Conforme a bagagem anterior, os interesses, a disponibilidade e as questões que cada um se formula, a cada momento, a interação com o conhecimento será diferente, oportunizando apropriações em níveis diversos.
E aqui já estamos nos referindo a um dos principais pilares da proposta da Projeto: sua orientação construtivista, que supõe o aprendiz como um sujeito ativo e pensante, capaz de aprender na interação com os objetos do conhecimento, manipulando, experimentando, testando, errando, confrontando e refletindo, a partir do que já foi assimilado e construído anteriormente, ou seja, de sua estrutura intelectual e de seus conhecimentos prévios. Isso quer dizer que os alunos só podem aprender mediante a atividade mental construtiva que aplicam sobre os conteúdos escolares, o que, por sua vez, faz da aprendizagem um processo de construção de significados e de atribuição de sentidos, diferentemente de uma mera cópia ou simples reprodução e acúmulo de conteúdo.
Entretanto, isso não quer dizer que o aluno aprenda sozinho. É necessário que se oriente essa construção tendo em vista o significado e a representação dos conteúdos como saberes culturais preexistentes, promovendo uma aprendizagem compartilhada entre professores e alunos, e entre os alunos, que oportunize uma reconstrução em nível pessoal desses produtos e processos culturais, com o propósito de se apropriarem deles. Entende-se, então, que o aluno aprende de forma mais eficaz num contexto de colaboração e intercâmbio com seus companheiros e professores, através de dinâmicas de elaborações conjuntas, discussões em grupo e argumentações na discrepância, entre outras. É preciso também que os desafios propostos partam da concepção atual dos estudantes em relação ao objeto de estudo, promovam o estabelecimento de relações entre conhecimentos diversos, e destes com sua realidade, e garantam avanços significativos a cada um, de modo a ir ampliando, progressivamente, suas capacidades – tanto as específicas, ligadas a cada área ou tópico de conhecimento, como as mais gerais, que se referem ao exercício de pensar, de perguntar e compreender, de relacionar e inferir, de comparar e generalizar, de investigar, criticar e se posicionar, transformando a mente de quem aprende. Importante ainda que esses conhecimentos construídos sejam sistematizados e consolidados como capacidades autônomas dos alunos.
Assim, ficam claras pelo menos duas implicações importantes dessa forma de se conceber a aprendizagem: 1) a de que o construtivismo redimensiona, e até amplia os conteúdos – relativizando-os, selecionando-os com critérios formativos, ou seja, vinculados ao desenvolvimento de capacidades, e não somente seletivos, e sequenciando-os -, em vez de reduzi-los, como costumam dizer seus críticos; 2) a de que o professor tem um papel essencial, enquanto organizador de propostas e situações de aprendizagem ricas, diversas e suscetíveis de favorecer a atividade mental construtiva dos alunos, e, ainda, enquanto guia e orientador do estudante, que garante as ajudas necessárias através de intervenções qualificadas, constantes e continuamente ajustadas, a partir da observação dos seus processos, de modo a respeitá-los sem deixar de promover avanços, e também de encadeá-los com os significados coletivos dos saberes culturalmente selecionados e organizados.
E desta última decorre uma questão crucial para a Projeto, que é a formação continuada de seus professores, realizada nos espaços de reuniões gerais, em equipes e individuais, com leituras, estudos, discussões e elaborações conjuntas, e em espaços de palestras e cursos variados. É toda uma estrutura e uma dinâmica de funcionamento que garantem essa formação, bem como o acompanhamento e o apoio aos professores, o que, por sua vez, sustenta, de alguma forma, certa unidade e sintonia nas ações da equipe, imprescindíveis para que uma proposta como essa seja de fato concretizada.
Aguardem, então, os “próximos capítulos” – nos dias 15 e 29/8 – aqui no nosso blog.
Eles irão abordar outros dois pilares importantes de nossa proposta. Não percam!
(*) Diretora pedagógica da Projeto.