Denise Hennemann (*)
Na segunda-feira da semana passada (27/6), depois de muitas horas na estrada, finalmente chegamos ao destino: São Miguel das Missões, pequena cidade de terra vermelha, com habitantes gentis e simpáticos, que guardam e honram o sítio arqueológico declarado Patrimônio da Humanidade mais importante da região.
Eu havia separado um tênis extra, preto, tipo bota, para Joaquim usar no passeio. Juntamente com as turmas do quinto ano da escola, ele exploraria o local e aprenderia in loco sobre o tanto que estudaram nos últimos meses. Minto. Desde sempre, todos os anos, a escola reforça o ensinamento sobre o povo indígena, então o passeio seria como a finalização de um grande projeto.
Como mãe, tentei não atrapalhar a dinâmica da turma na viagem de estudo. Então, ficamos na retaguarda. Éramos eu, o pai e o irmão chaveirinho, caso Joaquim precisasse de um suporte. Mas também aproveitamos para conhecer as ruínas. Localizadas em área verde e silenciosa, no meio da cidade, elas nos convidam a refletir sobre as missões jesuíticas, os bandeirantes e, mais que isso, sobre a batalha que se trava quando os povos são obrigados a abandonar suas origens. Fica a desolação, o sentimento de não pertencimento, as obras e o coração em ruínas. Eu mal consigo imaginar isso, pois nunca alguém me tirou da minha casa, muito menos sem me consultar, muito embora todos os dias tentemos nos adaptar às expectativas alheias para agirmos da melhor maneira possível.
Quanto ao passeio, durante o dia até fez calor; o fim de tarde foi extraordinário, com tempo para as crianças apreciarem o pôr do sol e registrarem suas impressões sobre o passeio; e o vento frio à noite não nos impediu de assistir ao lindo espetáculo de Som e Luz que ocorre nas ruínas. Todas as formas e personagens da história ganham voz e luzes. As cavalgadas e os estampidos, porém, provocam medo em quem assiste, que dirá em quem viveu tudo isso no passado…
Eu fiquei pensando nesse nosso passado sombrio, que nunca há de ser esquecido. Felizmente, estamos formando crianças conscientes de nossa história, com afeto e pensamento crítico. Lembrei também que é o último ano do Joaquim nessa escola ímpar que nos acolhe desde 2016, que preza pela formação completa, com respeito à diversidade, que valoriza e acredita, com todas as forças, na educação.
Já nostálgica, penso em como serão os próximos anos, com a certeza de que a formação do Joaquim tem fortaleza, e não ruínas; e que, apesar de ter esquecido o tênis preto na mala, as marcas de terra vermelha não vão ficar apenas no tênis de solado branco, porque tem coisas que marcam pra sempre, e a Escola Projeto é uma delas.
Feliz fico pelas famílias que ainda hão de conhecer a Projeto, escola pequena em tamanho, grande em ensino e afeto.
(*) Mãe do Joaquim, aluno do 5º ano da escola