Gabriela Ribeiro Filipouski (*)
A pandemia impôs uma nova realidade e oportunizou mais uma ocasião para estreitar o vínculo entre a Projeto e as famílias. Durante o primeiro semestre do corrente ano, a cada quinze dias, sempre às 18h30min, nas quintas-feiras, ocorreu um evento on-line, que chamamos de Roda de Conversa com as Famílias. O objetivo foi criar um espaço para pais, mães e cuidadores conversarem sobre as diferentes situações enfrentadas por eles em decorrência do afastamento das crianças do ambiente escolar. Os diálogos privilegiaram o suporte necessário ao desenvolvimento de seus filhos, subitamente colocados frente à educação a distância, abordando o uso de eletrônicos pelas crianças, questionamentos relacionados à volta para a escola, além de outras situações que, ligadas ou não à pandemia, foram surgindo. A experiência foi frutífera e possibilitou que a escola, com auxílio da psicologia (os encontros foram orientados por mim e tiveram a mediação da Beth Baldi), se aproximasse das famílias, compartilhando angústias e fazendo combinados para, juntas, poderem otimizar a vida cotidiana e as aprendizagens desenvolvidas por todos.
Em geral, quando se pensa em intervenção especializada da psicologia, ocorre a ideia de que alguém possa tratar de situações e sintomas já instalados, mas a psicologia também trabalha com prevenção. Mediar o diálogo de um grupo que compartilha das mesmas inquietações e vivenciar momentos como os que foram tratados nas Rodas de Conversa é uma atuação preventiva. A troca com outros pais e mães, cuidadores e profissionais possibilita que cada um amplie a visão sobre o momento que está vivendo, identifique situações da família e do cuidado dos filhos, se reconheça e pense em outras formas de ver ou se posicionar, se fortaleça ou reformule modos de interagir com seus filhos e minimize angústias e medos. As Rodas de Conversa também se propuseram a pensar a organização de regras e rotinas, a favorecer a autonomia, a acolher ansiedades relacionadas com situações momentâneas e a colaborar na compreensão dos sentidos comunicados nas atitudes das crianças que, tanto quanto nós, enfrentam uma situação nunca antes vivenciada.
Saúde mental decorre de cuidados prévios e é papel de quem trabalha com saúde e educação oportunizar a discussão a respeito dos modos de agir, especialmente em momentos de exceção, quando tempo e espaço se apresentam de maneira exacerbada. Quanto mais e melhor pudermos compreender nossos sentimentos, mais próximos estaremos de saídas saudáveis para os conflitos.
Já aprendemos a cuidar preventivamente da saúde física, nutricional e dentária, entre outras, mas só recentemente passamos a ver a saúde mental nessa perspectiva. Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, já falava nisso desde o início do século XX. Além da importância da qualidade das relações desde os primórdios da vida, também destacava a necessidade de oportunizar novas situações de esclarecimento ao longo do processo de desenvolvimento humano, favorecendo a construção de um ambiente mais saudável de convivência, com menos incertezas e conflitos.
Em um contexto analítico, isso acontece de forma individual, em consultas terapêuticas que buscam uma visão mais ampla do sujeito, fortalecendo relações e favorecendo um ambiente mais saudável para se desenvolverem. Quando acontecem em grupo, esses encontros são preventivos da vida coletiva e tratam, no nosso caso, do cuidado da família e de seus filhos. A comunicação entre os membros do grupo em cada encontro, a troca de experiências, as diferentes visões e a construção de ideias comuns pavimentaram um processo de ajuda nessa inusitada etapa de nossa vida, integrando escola, famílias e, por tabela, as crianças em torno do cuidado e dos afetos que estão sendo inventados, revistos e revisitados nesse período.
Os encontros também acontecerão durante o segundo semestre, ainda possibilitando momentos de reflexão sobre as consequências da pandemia e dos esforços de construção de novos modos de viver, onde a escola e suas práticas voltem a ter centralidade na vida das crianças, retomando os encontros presenciais sem perder de vista a necessária repactuação entre todos os envolvidos, as vulnerabilidades a serem consideradas ou a provisoriedade das decisões assumidas neste momento de nossa existência. Aprender com o que vivenciamos e reconstruir caminhos possíveis para estar com os outros é um convite a todos.
Vamos lá? Agende-se e participe!
(*) Mãe do Bernardo, aluno do 3º ano da escola, e Psicóloga.