NAMP (*)
As mudanças climáticas atingem todo o mundo, mas, nos últimos desastres climáticos que vivenciamos no Rio Grande do Sul, ficou evidente que, embora todos tenham sido afetados de alguma forma, nem todas as pessoas sofreram da mesma maneira.
As questões ambientais e de justiça social estão interconectadas, e esse tipo de acontecimento intensifica as vulnerabilidades de pessoas, famílias e comunidades racializadas e/ou periféricas. Os mapas do Núcleo Porto Alegre do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Observatório das Metrópoles mostram o tamanho da inundação e quais os bairros mais atingidos. Num cruzamento com os dados do Censo de 2010, esses mapas apresentam a relação direta entre rendimento, cor e raça. Foram mais atingidos os lugares mais pobres e com grande concentração de pessoas negras e indígenas. A isso, nomeamos de racismo ambiental.
Com isso em mente e tendo o objetivo de conhecer a situação de toda a comunidade escolar diante da catástrofe climática e ambiental que enfrentamos no estado, a Escola Projeto, em parceria com o NAMP (Núcleo Antirracista e Multicultural da Projeto), lançou no final de maio uma consulta.
Nosso propósito foi identificar se alguém havia sido atingido pelas chuvas e enchentes e quais as demandas mais prementes, para que pudéssemos mobilizar esforços para amenizar as dificuldades.
Agradecemos a participação e o retorno dado ao questionário, apresentando abaixo um resumo dos resultados obtidos com o preenchimento do formulário por 84 respondentes, número que consideramos bastante representativo, e os encaminhamentos realizados.
Assim como no restante da cidade, na comunidade escolar, entre os que foram mais duramente atingidos também estão sujeitos que já enfrentavam algum tipo de vulnerabilidade.
Salientamos que quatro pessoas informaram terem sofrido algum tipo de dano. Uma família teve a casa invadida pela água das enchentes. Um dos encaminhamentos realizados pela escola e NAMP foi destinar uma bolsa de 70%, que estava ociosa, até o final do ano.
Duas pessoas que atuam na escola também tiveram suas casas invadidas pela água. Uma manifestou a necessidade de vestuário, no que se buscou atender fazendo busca ativa em abrigos e centrais de doação por roupas que fossem adequadas para ela e sua família. Outra está recebendo doações.
Além disso, outra pessoa que atua na escola teve um evento de deslizamento do barranco junto a sua casa. Mobilizando a rede de contatos para conseguir que um engenheiro capacitado fosse visitar o local e avaliar a segurança e o tipo de obra que precisa ser realizada. A partir disso, o NAMP destinará um valor para a realização da mesma.
Segue abaixo um resumo das respostas obtidas.
Você perdeu ou tem familiares desaparecidos em virtude das enchentes?
Todos: Não
Gostaria de escrever mais sobre a situação da sua residência, frente às enchentes que têm acontecido no Rio Grande do Sul?
Resumo das respostas:
- relatos de pessoas que precisaram sair de casa em função da inundação da residência ou da falta de água ou luz.
Você gostaria de nos informar algo mais?
Resumo das respostas:
- relatos de danos às residências/locais de trabalho próprios ou de familiares e amigos
- relatos de limitação à circulação
- relatos de perda de oportunidades/condições de trabalho
- impacto emocional nas crianças e adultos
- agradecimentos pela iniciativa da pesquisa
- oferecimento de ajuda
(*) O Núcleo Antirracista e Multicultural da Projeto é um coletivo formado por familiares de estudantes e por integrantes da equipe da escola com o objetivo de promover a reflexão sobre as relações étnico-raciais no ambiente escolar e na sociedade.