Tati Suárez (*)
Possibilitar um olhar diferenciado para o contraturno: foi com essa proposta que topei assumir com muito carinho e dedicação esse espaço dentro da Escola. Acostumada a fazer oficinas de arte (@tdtati), onde o meu contato com as crianças era de curtos períodos, estar no + PROJETO, todas as tardes, só veio para mais uma vez me mostrar e me provar que é no meio delas que quero estar. Nessas várias semanas juntos, já fizemos muitas arteirices, seja a partir de uma provocação ou de uma curiosidade trazida pela galerinha.
A frase do Paul Klee, “Desenhar é levar a linha para passear”, foi o ponto de partida para brincarmos de muitas formas com as LINHAS. Através do desenho percebemos não somente a dança, mas a forma dos objetos, o formato dos corpos, a diversidade dos traços e a possibilidade de sairmos do papel e ganharmos espaços tridimensionais. Utilizar linhas e lãs na composição dos trabalhos nos levou a perceber a materialidade, fazendo com que pensássemos em costuras, amarras, fios… Foi dentro desse contexto que trouxe a obra do incrível Bispo do Rosário, a partir da qual pudemos conversar sobre diversos assuntos através da arte.
Sim, a ARTE nos conta muito sobre a história de cada um, ou sobre a história de um povo, como no estudo que fizemos sobre os desenhos dos povos indígenas. Os traçados corporais, as tramas das cestarias, os bordados apresentados nos acessórios, tudo tem um porquê. Como pensar na arte sem percebermos o nosso entorno, aquilo que nos provoca, que nos faz refletir? Apresentei para o grupo não somente os desenhos formados nas pelagens animais, mas também aqueles desenhos não tão óbvios, aqueles em que só os olhos atentos detectam. Trabalhamos com as plantas do pátio da escola, olhamos no macro e no micro, e descobrimos muitas coisas nessas observações.
Observar… transformar… a possibilidade dos nossos encontros nas tardes do + Projeto são inúmeras. Tem dias em que saímos totalmente do roteiro, nos “perdemos” propositalmente para buscar respostas às questões ou sugestões surgidas naquele dia, ou solicitadas para determinadas ocasiões…
Assim aconteceram as guitarras em homenagem à Rita Lee, o filtro dos sonhos, os origamis, as histórias em quadrinhos, os brinquedos de papelão, os personagens de espuma, a máquina de ilustrações da Susana Ventura.
Ir e vir na história, permitir…
Foi numa destas idas e vindas que surgiu o papo sobre o roubo da Mona Lisa, que nos levou a fazer um estudo aprofundado sobre a icônica obra de Leonardo da Vinci. Nesses encontros outros artistas foram sendo agregados, artistas estes que nos apresentaram diferentes releituras dessa obra tão popular.
Nelson Leirner, Vik Muniz, Basquiat, Salvador Dalí e Silvia Marcon foram alguns dos nomes que vieram para a roda.
Mesclar artistas contemporâneos e fazer essas amarras, tecendo os fios das histórias, nos possibilitou um momento maravilhoso: um encontro com a artista Silvia Marcon, que não só veio até a Projeto para uma conversa, como permitiu que a galerinha acompanhasse a confecção do presente que deu para a Escola. Agora uma de suas Monas, vive entre nós! Você já a viu?
Não? Então aqui vai uma dica: perceba o entorno, abra os olhos, perceba o mundo com o olhar de uma criança!
(*) Tati é publicitária, tem pós-graduação em Arte Educação e é responsável pelo trabalho do +Projeto, no turno da tarde. @tdtati