Mostra de Teatro e a Experiência de Estar em Cena – A visão do professor titular Rafael Bricoli
Na definição do informativo da escola, “Mostra de Teatro” é um momento em que cada turma apresenta aos familiares o resultado ou o processo de seu trabalho nas aulas de teatro até o momento. Eu acrescentaria a essa definição que a Mostra de Teatro é também a possibilidade dos adultos olharem as crianças de outro jeito. Do jeito cênico.
Quando estamos em cena, em evidência, de frente pra muitas pessoas, agimos de maneira muito especifica. Em qualquer trabalho que envolva alguém falando/fazendo algo diante de muita gente está presente a sensação de exposição. É uma sensação parecida com a sensação de se estar em cena. É falar e ser ouvido. Mostrar e ser visto. É claro que com a frequência e a continuidade vai se ganhando experiência em lidar com essa sensação. E chega-se a ter, até certo ponto, controle sobre ela. Mas aquele friozinho na barriga e o coração palpitando forte, isso tende a nunca mudar.
Semana passada (31 de maio) aconteceu a Mostra de Teatro do 4º ano. Crianças de 9 e 10 anos apresentaram para seus familiares um trecho do trabalho que fizemos durante o 1º trimestre. E experimentaram novamente essa sensação de estar em cena, esse friozinho na barriga. Era sobre Chaplin. Cinema mudo. Expressão corporal.
Antes da apresentação, aquele momento de tentar tranquilizá-los e me tranquilizar também, aquele momento em que se faz os últimos combinados e o bigodinho do Carlitos, o momento em que falamos “MERDA!”, dando continuidade ao ritual pré-cena. Aquelas carinhas nervosas me olhando e eu tentando mostrar tranquilidade. Chegamos na sala e enquanto eles se posicionavam em cena, esperando no lugar combinado, eu repassava, apressado, na cabeça o que eu tinha que falar pras famílias antes de começar a apresentação. Pensei também que eu tinha que colocar a música, e que teria que pedir licença para a última fileira para chegar até o rádio. Não podia esquecer de desligar a luz geral e ligar a luz da cena. Pronto. Começou a cena. Nesses anos todos, já desisti de ficar frustrado quando eles fazem diferente de como foi no ensaio. Já percebi que isso é natural e, de uma maneira ou de outra, sempre acontece. Desta vez, não foi diferente. “Ixi, entrou do lado errado. Cadê essa música que não toca logo? E esse silêncio? Pronto, esqueceram a ordem das cenas…” e por aí vai o pensamento de um professor nervoso. Mas dessa vez meus pensamentos foram para um sentido diferente.
Eu, que acompanhei o processo, sei que apesar da aparente bagunça, eles estavam realmente envolvidos. Os vi criando e discutindo e estruturando em equipe o que iriam apresentar. Os vi experimentando o fazer coletivo que é o teatro. Resolvendo, decidindo e de certa forma, se desafiando também. E a Mostra de Teatro vem como continuação desse processo. Dessa vez, prestei atenção nessas coisas que saem do combinado de maneira diferente. Fiquei orgulhoso de vê-los se resolvendo em cena. Sem parar, bancando os improvisos e contratempos, se ajudando pra fazer o trabalho seguir. Prestei atenção naquele gesto de se ajudar em cena, como um ensaio de coletividade para a vida. Se ajudando pro “show” continuar.
O tempo voa e a apresentação acaba. Beijos, fotos. Ficam os registros dos celulares e nas memórias de quem viu. Mas, principalmente, fica a experiência corporal em cada criança, em medidas diferentes, de ter sentido o nervoso do corpo antes da cena e o alívio de ter sobrevivido a essa experiência.
Sobre o Contato com o Teatro e uma Escolha de Caminhos – A visão da ex-aluna e hoje atriz Elisa Heidrich
Poderia enumerar vários benefícios de praticar teatro na escola, mas o meu depoimento vem de forma mais pessoal agora.
Tenho um carinho enorme pela Escola Projeto! Por inúmeros motivos, mas por um muito especial: as aulas de teatro!
Sabe quando acontece algo no teu caminho capaz de mudar tua vida? Assim é pra mim lembrar das aulas de teatro. As primeiras aulas de teatro! Como uma imensidão de descobertas e os melhores dias de cada semana! Como se a cada encontro do teatro eu me encontrasse mais comigo e desvendasse um rio de possibilidades!
O teatro virou uma paixão que me acompanha até hoje. Me formei em interpretação teatral na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2010, e conclui o mestrado em Artes Cênicas, em 2013, na mesma universidade. Trabalho com teatro desde sempre e não consigo me imaginar sem fazer isso na vida.
O mais louco é que lembro com detalhes de várias aulas de teatro que tive na Projeto. Quase como se tivessem um sabor, um cheiro… Algo que me emociona e anda comigo até hoje.
Além das aulas de teatro eu ressalto os sábados culturais e o contato com artistas! Tudo sempre me fascinou e me inspirou!
Obrigada, Escola Projeto, por colocar o universo teatral no meu caminho!