Beth Baldi (*)
A preocupação com questões ambientais de nossa cidade, do país e do planeta está há mais de 20 anos presente no currículo escolar da Projeto.
Ainda ocupando somente a Unidade 1, na Rua Paulino Teixeira, começamos com um trabalho voltado à separação de resíduos, quando também iniciava a coleta seletiva em nossa cidade, uma das pioneiras do país nesse serviço. O trabalho continuou e se ampliou, em termos de reaproveitamento dos resíduos, com organização de composteira, utilização do composto nos vasos de plantas e depois numa horta, reutilização de materiais e visitas a unidades de separação e reciclagem, por exemplo, a ponto de as ações dos 3Rs da época (reduzir, reutilizar e reciclar), estarem até hoje totalmente incorporadas no cotidiano da escola, ainda que tenham sido, volta e meia, retomadas e, então, ampliadas para os 5Rs (repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar), atualmente utilizados.
A partir desse primeiro foco, fomos, de diferentes maneiras, nos aproximando como equipe de temas variados da área, e aprofundando estudos sobre eles e sobre formas de abordagem que resultassem em aprendizagens significativas. Foram palestras e cursos com especialistas – entre eles, Francisco Milanez (1), com quem fizemos a 1ª oficina em 2002, e Rualdo Menegat (2), que palestrou sobre o Lago Guaíba no Seminário de Estudos e Planejamentos com professores, em fevereiro de 2010, gerando um projeto de trabalho naquele ano em que todas as turmas estudaram as águas da nossa cidade -, estudos em reuniões de equipe na escola, formações individuais depois compartilhadas (3), planejamentos conjuntos, desenvolvimento de projetos e produção de materiais. Entre esses materiais, destacamos a Revista de Educação Projeto com o tema da Educação Ambiental, de 2004, e o livro Balaio de Ideias, de 2013 (4), ambas publicações da Editora Projeto, que envolveram a coordenação da escola. Houve, ainda, uma produção interna, dirigida à nossa comunidade escolar: a Revista “Por Dentro da Escola” (5), com textos escritos pelos(as) alunos(as), que em 2007 contavam sobre os estudos desenvolvidos naquele ano a respeito da produção de resíduos na escola, com os propósitos de reduzir, reaproveitar e reciclar.
Também tivemos assessorias na área – das biólogas Martina Mohr/2006 e Simone Oliveira/2006 e 2007 (6), e da Anna Milanez (7), inicialmente como estagiária do curso de Biologia, fazendo oficinas com crianças e professores(as) -, que nos provocaram e apoiaram para escolhas de temas e definição de objetivos, tendo em vista o currículo mais amplo e a compatibilização entre as etapas e séries, assim como seus desdobramentos em estudos, projetos e propostas de atividades.
Dentre os vários estudos relevantes que realizamos em conjunto na equipe, a leitura do livro da argentina Ana Espinoza, Ciências na Escola: Novas perspectivas para a formação do aluno, Ed. Ática, 2010, foi especialmente marcante, por seu conteúdo, claro, mas também pela forma como o desenvolvemos: todos(as) os(as) professores(as) adquiriram o livro, a partir de um bom desconto da editora, e fomos lendo e discutindo todo ele, ao longo de um ano de trabalho, utilizando partes de nossas reuniões semanais, nas quais, com base no que fazia sentido e nos instigava das leituras realizadas, repensávamos nossos projetos, incluindo os que focavam questões ambientais.
Assim, ao longo dos anos e com apoio dessas e de outras iniciativas relacionadas à formação continuada, a escola foi estruturando formas de trabalho, que buscassem trazer a Educação Ambiental para um patamar condizente com sua importância, ao mesmo tempo que levasse em conta o que era possível dentro do tempo didático disponível em cada etapa. Também cuidamos para que os temas escolhidos “conversassem” com outros projetos da série (geralmente de Ciências da Natureza ou de Ciências Humanas), ampliando-os e/ou aprofundando-os. Uma dessas formas foi, por algum tempo, o desenvolvimento de um projeto trimestral por série com foco na Educação Ambiental. A cada ano escolar, então, as crianças tinham oportunidade de se aproximar de algum assunto novo, ampliando conhecimentos a respeito de outro já trabalhado, formulando novas perguntas, levantando hipóteses, observando, investigando, lendo textos informativos, visitando locais para enriquecer o trabalho, conversando com colegas, professora ou outros profissionais convidados, registrando o aprendido, num constante movimento espiral de ir e vir, avançando sempre um pouco a cada vez. Nos últimos anos, cada vez mais, esses temas – composteira e horta; árvores da cidade, seu papel no equilíbrio ambiental e ações para preservação; tipos de embalagens, seus impactos ambientais e ações possíveis para diminuir esses impactos; unidades de conservação (Reserva do Lami e outras) e sua importância para manutenção de fauna e flora locais; litoral do RS, ecossistemas, identificação das principais ameaças e ações possíveis para preservação; fontes de energia no país, com ênfase em hidrelétricas, seu funcionamento e impactos ambientais e sociais, dentre outros – estão sendo incorporados aos projetos de Ciências da Natureza e Humanas, oportunizando integrações mais orgânicas.
Da mesma forma como aquele primeiro trabalho sobre separação de resíduos deu frutos e se institucionalizou em ações cotidianas, o estudo e montagem da composteira e da horta, realizados na educação infantil e também no início do fundamental, nos levou a um outro projeto que focou, em determinado momento da trajetória da escola, a Alimentação Saudável (que, a partir de 2017, passamos a chamar Alimentação Equilibrada, quando tivemos uma colaboração de nutricionistas da Unimed), com diferentes explorações, estudos, conversas e experiências em todos os anos escolares, e implicou, com o apoio das famílias, no estabelecimento da prática do lanche coletivo, que aconteceu em todas as salas por vários anos. Na educação infantil acontece, periodicamente, até hoje. Para esse momento, as crianças trazem lanches saudáveis, combinados com as famílias, para compartilhar com os(as) colegas (frutas, sucos ou alguma receita especial).
E assim seguíamos… – “lépidas(os) e faceiras(os)”, mesmo que tudo isso tenha sido sempre resultado de muito trabalho -, quando, no ano passado, nos tornamos uma escola signatária de um movimento chamado “Escolas pela Clima” (8), uma comunidade de escolas comprometidas com a formação de estudantes que sejam capazes de agir na busca de soluções para a emergência climática. A partir daí, uma (outra) pequena revolução começou a acontecer, fazendo, mais uma vez, avançar o trabalho nessa área. O professor Rafael Bricoli, que abraçou a causa, passando a participar das palestras e reuniões propostas pela organização do movimento, como representante da Projeto, engajou o Grêmio Estudantil da escola em ações concretas relacionadas mais diretamente ao que o movimento propunha, passando a coordenar esse trabalho (9). O Grêmio, então, se renovou, com objetivos e formas de organização mais focadas na construção de novos conhecimentos sobre as questões ambientais, mas seguiu oportunizando aos(às) alunos(as) o desenvolvimento da autonomia e do exercício da cidadania. Rafael conta sobre todo o processo e os resultados desse trabalho em um texto publicado aqui mesmo neste blog, em setembro último (10), que vale a pena conferir.
E eis que, mais um evento bacana aconteceu em função desse trabalho: resolvemos inscrevê-lo no Congresso Nacional das Escolas pelo Clima, que se realizou no mês passado, em 23 de novembro, de forma on-line, e fomos selecionados!!! Dentre mais de 500 escolas signatárias, o nosso “Grêmio Estudantil pelo Clima” foi um dos 35 projetos selecionados para apresentação no Congresso. Não chegamos ao “Prêmio Escolas pelo Clima 2022”, anunciado no Congresso, mas termos chegado lá, apresentando o trabalho, nos orgulhou demais! E, sobretudo, nos provocou e motivou a continuar firmes nessa caminhada. Temos planos de seguir investindo muita energia e tempo escolar a novos estudos e estratégias em Educação Ambiental, inspirados pelos trabalhos que vimos serem apresentados lá no Congresso e pelo incentivo do próprio movimento, sem falar, é claro, nas demandas urgentes do planeta e no desejo da escola de trabalhar em prol do engajamento de nossos alunos e alunas para sua solução.
Parabéns aos(às) alunos(as), professores(as), coordenadoras e funcionárias da escola, que sempre se envolvem e trabalham muito para concretizar as propostas que vamos construindo juntos(as)! Parabéns a todos(as) pelo compromisso e dedicação para com as questões ambientais em jogo! Parabéns às famílias, sempre parceiras e super engajadas nas causas lançadas! E, mais que tudo, obrigada a todos(as) que vêm contribuindo nessa trajetória que nos envaidece tanto!
O próximo ano que nos aguarde!!! 2023 vem com muita esperança e força também aqui na nossa Projeto!!!
(*) Diretora pedagógica da escola.
(1) Biólogo, Arquiteto e Ambientalista, atual presidente da Agapan/Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (já tendo exercido esse cargo outras 4 vezes).
(2) Geólogo, pesquisador e professor da UFRGS, foi coordenador geral da obra Atlas Ambiental de Porto Alegre, de 1998.
(3) Destaque para os estudos sobre o Ensino de Ciências Naturais, com a argentina Ana Espinoza, em curso de 2008 e em 4 Jornadas ao longo do ano de 2012, ambos realizados na Escola da Vila/SP, promovidos por seu Centro de Formação.
(4) Esse livro, inclusive, foi por muitos anos adotado pelo 3º ano na Projeto e estudo neste e no 4º ano.
(5) Leia a Revista aqui: https://issuu.com/arodesign/docs/revista_pordentrodaescola_2007
(6) Ambas, na época, com filhos(as) na escola: o Pedro, filho da Simone, estava na 3ª série, e o Felipe e a Luiza, da Martina, no Grupo 3 e na 4ª série, respectivamente.
(7) Anninha, como a chamamos, foi aluna da Projeto e é filha da Ana Isabel – professora e coordenadora na educação infantil, por vários anos, tendo sido uma profissional muito importante na construção do que hoje é a escola – e do Francisco Milanez, ambientalista que também contribuiu com a caminhada da escola nessa área com palestras e oficinas, em alguns momentos. Anninha, depois, teve seus filhos estudando na Projeto.
(8) Para saber mais sobre o movimento, acesse: https://www.reconectta.com/escolaspeloclima
(9) O Grêmio Estudantil, antes coordenado pela Deborah Fischer, desde o início de sua existência já realizava ações voltadas a questões ambientais, junto com outras relacionadas à integração entre os(as) estudantes, à recreação e ao exercício da solidariedade. O que passou a acontecer, a partir deste ano e da participação da escola no movimento citado, foi uma especificação do foco de atuação, como forma de viabilizar as ações da escola dentro do que propunha o movimento.
(10) Leia o texto em: https://www.escolaprojeto.g12.br/olhinhos-de-esperanca/