Arthur de Faria (*)
Quando nos encomendaram o show do Flicts, pro Porto Verão Alegre deste ano, imediatamente pensei:
– Bah, depois a gente tem de apresentar na Projeto…
O disco existia desde 1998, mas a gente nunca tinha feito show, já que era a trilha de um espetáculo de Teatro de Bonecos, do Grupo Camaleão, que ficou 10 anos em cartaz.
Claro que a Beth deve ter lido meu pensamento e tava lá no Ling, na estreia. E já veio direto com o convite que ela nem sabe que eu já tava esperando, ehehehe.
Foi lindo, como não poderia deixar de ser. A gente, da Tum Toin Foin, tá acostumado a tocar um repertório só instrumental e muito bem definido por uma pessoa que foi nos assistir como “música difícil de tocar, mas fácil de ouvir”. Então, o Flicts é um sopro de ar fresco. Mas também é um desafio: ninguém ali, além de mim, faz show cantando. E todos cantam (lindamente) no show.
Por outro lado, tem a experiência, tão assustadora (pra quem não tá acostumado) quanto altamente compensatória, de tocar para crianças. Um público que deixa bem claro quando não gosta ou quando não foi “capturado” pra dentro da peça ou do show. Eu tou careca (literalmente) de ter essa experiência, mas pra muitos ali era também a SEGUNDA vez NA VIDA (depois dessa estreia em janeiro). Pro Venâncio, guitarrista que entrou no lugar do Erick Endres (que se mudou pra Europa), era a PRIMEIRA vez. E ele ficou muito encantado, como ficamos nós sempre.
Fazer arte pra crianças é muito mais desafiador (mas também recompensador) do que se pensa. E ainda tem aquelas duas coisas maravilhosas, uma no começo outra no fim.
A do começo:
– CO-ME-ÇA! CO-ME-ÇA!
Queremos muito levar isso pros shows adultos, ehehehee.
A do fim:
– Quero tirar foto com o Flicts!
E nem falar da lindeza do menininho – ou menininha, talvez – que, quando o Flicts cantou tristonho “- É, ninguém me quer mesmo…”, gritou:
“- Eu quero!”
(*) Pianista, compositor e arranjador. Doutor em Literatura Brasileira pela UFRGS, na área de canção popular. Produziu 28 discos, dirigiu 12 espetáculos. Escreveu 52 trilhas para cinema e teatro em Porto Alegre, São Paulo e Buenos Aires. Lidera a Tum Toin Foin Banda de Câmara e teve peças interpretadas por orquestras e solistas de várias cidades brasileiras. Tocou em meia dúzia de Países e 19 estados brasileiros. Lançou 20 álbuns e EPs e três livros sobre a música de Porto Alegre. Publica também na Revista Parêntese, da qual “colamos” essa apresentação.