Jaqueline Pieretti (*)
Final de ano. Os últimos dias são intensos, mas encontro energia para guardar nestas linhas um pouco do muito que vivi.
Entre tantos momentos e aprendizados da turma 33, neste ano, compartilho uma vivência especialmente bonita. Meu aluno Marco é pesquisador das descobertas do Espaço. Pensando no conhecimento que ele tem sobre o assunto, fizemos o convite para um encontro com as turmas do 2º ano, que estão estudando esse tema no projeto de Ciências. O encontro foi agendado e o Marco estava super empolgado, se preparando com a família. Eu e ele compartilhamos a novidade com a turma, que prontamente expressou interesse em participar do momento com o colega.
No dia do encontro, chegamos na sala multiuso e percebi as crianças dedicadas a arrumar a sala, enfileirar cadeiras, ajeitar a mesa e dispor o material que o colega tinha preparado. Olhei para o Nicolas, monitor e querido parceiro deste ano, e o percebi igualmente maravilhado com a generosidade daquela cena.
Quando tudo estava pronto, recepcionamos os pequenos cientistas do 2º ano. Marco começou se apresentando e compartilhando seu conhecimento. As quase quarenta crianças que estavam na sala assistiam hipnotizadas, retomando a fala para fazerem perguntas consistentes e questionamentos aprofundados ao palestrante. Ele escutava com atenção e respondia com apropriação, diferenciando as evidências científicas das hipóteses, valorizando cada questionamento e se dispondo a pensar junto sobre as possibilidades da “Vida em Marte”. Entre uma e outra pergunta, Marco explicou: “Eu conheço essas coisas porque eu me interesso muito, eu pesquiso. Esse é meu hiperfoco, tem a ver com meu espectro também”.



Enquanto isso, eu, Lari, Márcia, Nicolas e Ana trocamos sorrisos e olhares emocionados e orgulhosos. As profes Lari e Márcia, atualmente no 2º ano, foram também profes da turma 33, no 1º e no 2º ano, e, portanto, participaram diretamente dessa construção. Compartilhamos o sentimento de alegria de estarmos vivendo aquele momento juntas.
O encontro acabou e as crianças começaram a bater palmas. Marco vem até mim com um sorriso largo no rosto: “Profe, posso chamar meus colegas pra ficar junto comigo, para agradecer e dar um tchauzinho para todos?” Me emocionei mais um pouco com aquela pergunta. O encontro era dele, sim. Mas era dos colegas também, que o estavam apoiando e torcendo por aquela conquista.
Corta a cena. Chego em casa e converso com o Benício, meu filho e aluno do 2º ano, sobre o encontro. Ele conta admirado sobre os mais de quarenta satélites que o Marco mostrou, pintados em bolinhas de isopor com diversas texturas e tamanhos. Sempre me encanto ao ouvir o Beni contar sobre a alegria de aprender e quando expressa o sentimento de pertencimento à turma e de como se sente respeitado, apoiado pelos(as) colegas.
Lembrei que dias atrás ele chegava feliz em casa, contando sobre os primeiros passos sem apoio da colega Rafa. Lembrei que por aqueles dias nós, famílias da turma, vibramos e nos emocionamos ao assistir um vídeo em que a Rafaela caminhava sorridente e atenta entre as classes de seus colegas, que paravam a atividade, satisfeitos e orgulhosos, batendo palmas e vibrando pela conquista dela.


A conquista foi da Rafa, sim. Mas foi de todas as crianças também. Que tanto aprendizado tem nisso! Pensei nos sorrisos da profe Lari, das monitoras Ana e Letícia, que não apareciam no vídeo, mas estavam atentas registrando aquele momento. Pensei na Graça, nossa coordenadora, que participa desse trabalho e que deixou um pouco as muitas tarefas que lhe esperavam na sua sala para correr e assistir àquela cena. Pensei no sensível trabalho da Fernanda Lantz, que também vibra e se emociona com essas conquistas e que, desde que chegou na escola, trouxe discussões tão importantes sobre inclusão e anticapacitismo, para ampliar o olhar da equipe sobre esse trabalho. Pensei sobre as muitas pessoas que fazem parte. Pensei que esse trabalho é feito por muitas, muitas mãos.
Essas cenas emergiram aquilo que é vivido e construído diariamente na escola: o pertencer, a construção da coletividade nesse espaço em que se aprende junto a enfrentar os desafios e vibrar com as conquistas. Que tanta potência cabe em um espaço de crescimento em que a infância pode ser vivida sendo quem se é!
Escrevo e suspiro. Que privilégio viver essas cenas ora como professora, ora como mãe e também como colega de pessoas que admiro tanto! Enfrentamos os desafios e também vibramos com as conquistas: que são das crianças, são nossas e de toda a comunidade da escola!

(*) Professora do 3º ano/Turma 33 da Escola Projeto e mãe do Benício, aluno do 2º ano/Turma 22. Pedagoga e Mestre em Psicologia da Educação pela Ufrgs, atualmente estudando Psicologia na Uniritter.