Caliana Zellmann (*)
Há um tempo, escrevi e publiquei aqui no blog um texto contando sobre minha experiência (ou a falta dela) com os livros. Confessava, naquele texto, que pouco tive contato com a literatura na infância e que construí, trabalhando na Escola Projeto, uma relação de afeto com a leitura, pelo simples fato de viver experiências leitoras todos os dias, NA ESCOLA. Aquele texto também trazia as lembranças que eu tinha das bibliotecas que eu frequentei quando pequena. Vazias, pouco atrativas, frias, sem sentido para uma criança.
Aqui na Projeto é o contrário. As crianças vivem leitura todos os dias. Temos leitura socializada todos os dias, as quais como as leituras compartilhadas e individualizadas estão enraizadas na nossa prática pedagógica. As crianças têm a oportunidade de VIVER a biblioteca todos os dias. Exploram um local repleto de bons livros, uns mais antigos, outros mais novos, com autores conhecidos, outros nem tanto.
Porém, o impedimento das aulas presenciais pela pandemia, por um tempo significativo, tirou a oportunidade de alguns(umas) alunos(as) se aproximarem dos livros da maneira que eu e a escola acreditamos.
Nos anos de pandemia e aula on-line, tentei me esforçar ao máximo para não sentir saudade dos deliciosos momentos de biblioteca com toda a turma. Então foi maravilhoso reviver essas lembranças tão marcantes do 1º ano. Biblioteca sempre foi – e sempre será – uma das melhores coisas da escola, pelo menos para mim. Olivia, 4º ano
Trabalhar com os “grandes” da escola me faz enxergar que as crianças aprenderam a ler, sim, mesmo que distantes fisicamente da escola. Mas a questão não tem sido a leitura no sentido estrito. Todos(as) da minha turma sabem ler. O desafio que me cerca é maior e tem a ver com ajudar as crianças a GOSTAREM de ler. Não queremos que leiam somente por obrigação, mas que leiam porque QUEREM ler, porque sentem prazer em ler, em conhecer, descobrir, desvendar mistérios, conhecer autores(as) e ilustradores(as).
Agora que estamos todos(as) na escola presencialmente, sinto que, mais do que nunca, estou no papel de ensinar. Ou talvez a melhor palavra nem seja ensinar. Talvez a melhor palavra seja oportunizar. Oportunizar o contato das crianças com o formar-se leitor e descobrir o mundo de possibilidades que SER um leitor proporciona. Pois eu sei que, ao mesmo tempo que nos formamos bons leitores, podemos conhecer melhor a vida, desenvolvemos a capacidade de estabelecer relações, nos emocionamos e nos percebemos como sujeitos mais pensantes.
Quando voltei a ler todos os dias (já que não lia todos os dias na pandemia) foi uma novidade pra mim, porque na pandemia li só livros em quadrinhos. Agora, na biblioteca, leio diversos tipos de livros. Acho que voltando a ler todos os dias me despertou mais curiosidade e felicidade. Ajudou na escrita também. Ter biblioteca todos os dias é bem legal. Não sei vocês, mas me ajudou a ler muito mais. Ana, 4º ano
No tempo de pandemia, em que tudo foi mais difícil para todos, a minha leitura diminuiu muito, e isso sinceramente é algo que diminuiu a curiosidade em geral. Quando voltei a ler todos os dias, certamente foi muito importante para mim, porque me ajudou a reviver a incrível sensação de ler na biblioteca da minha escola tão especial. Beatriz, 4º ano
Oportunizar o ler junto, separado, sentado, em pé. Ler livros longos, curtos, de poesia ou narrativa, terror ou aventura. Isso não importa. O importante mesmo, nessa volta às origens da prática de leitura aqui na escola, é que as crianças se sintam de novo próximas dos livros, assim como estão (re)aprendendo a se reaproximar de amigos(as). Tem sido mais desafiador, sim, mas tem valido a pena!
(*) Professora da turma 41 – 4º ano do ensino fundamental da escola.